Pequeninas e boas lembranças do ano que se passou; para um ano novo mais bonito

Marina Yukawa
3 min readJan 23, 2024

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Gostaria de começar 2024 registrando em palavras dois momentos muito diminutos, até ordinários, de 2023; mas que, em sua simplicidade e singeleza, me fizeram feliz. Para não me esquecer. Para não me esquecer da felicidade de coisas pequeninas.

Em meados de agosto, comecei a me exercitar na academia. Nunca fui uma pessoa de muito movimento, mas precisava colocar as engrenagens para funcionar. E, surpreendentemente, não odiei. Gostei, até. Claro que alguns dias são melhores que outros, mas não é disso que gostaria de falar agora.

Logo que cheguei, certo dia, percebi uma mariposa enorme — não sabia que poderiam ser tão grandes — repousando na lateral de uma das bicicletas ergométricas. Alguém que não prestasse muita atenção, ou que não tivesse a habilidade de farejar insetos como eu — sempre em alerta — , não a teria visto. Uma mulher chegou até a pedalar sem perceber o serzinho descansando ali. Da mesma forma que o bicho mal se importou com o exercício dela.

Meu receio era que o bicho se enfezasse ou se assustasse e desse a sobrevoar a academia. Seria um alvoroço. E então a apontei para a moça que estava perto de mim, perguntando: o que a gente faz? Chama um professor? Ela, muito mais corajosa do que eu, abriu a janela e tentou pegar a mariposa — sim, com as mãos mesmo — para libertá-la. A bichinha se debateu inteirinha, como peixe recém-pescado, e não se deixou capturar facilmente. Mas a mulher, muito determinada, conseguiu pegá-la com a ponta dos dedos em pinça. Em um movimento rápido, a soltou pela janela. A mariposa estranhou a liberdade repentina, mas logo tomou voo. Nós duas a observamos até que não pudéssemos mais avistá-la e então, feliz como uma criança que ganhou um jogo ou um presente, saltitante, disse: eu salvei ela!!! Eu salvei ela!!!

A felicidade da moça era genuína — dessas que merecem três exclamações mesmo !!! — e me fez sorrir, também feliz.

Esse foi o dia em que vi uma mariposa ser salva.

Levo minha avó uma ou duas vezes à fisioterapia tem algum tempo já. A clínica é pequena e cheia, sempre tem muita gente esperando, chegando, partindo, se exercitando, e nós — minha avó e eu — sempre assistimos um pouco ao movimento frenético de pessoas. Conhecemos algumas de vista, de bons dias e boas tardes, e uma senhorinha me chamava a atenção para além de seus cabelos tão branquinhos como a neve — os da minha avó são acinzentados! — e seus olhos bem redondos e ternos.

Ela sempre chega em uma cadeira de rodas, segurando um andador fechado no colo. Os filhos a acompanham. Sua cadeira de rodas ocupa um espaço considerável na sala de espera pequena para tanta gente, mas eles têm uma habilidade surpreendente em não bloquear a passagem. Eu mesma já “dirigi” cadeira de rodas em algumas ocasiões — com minha outra avó — , e não me saí muito bem.

Talvez fosse uma das últimas sessões do ano. Eu aguardava minha avó ser chamada quando ouvi uma comoção das fisioterapeutas. Era a senhorinha do cabelo branquinho chegando. Não na cadeira de rodas como anteriormente; mas andando com a ajuda do andador. Minha avó e eu sorrimos, felizes. Eu vi na melhora da senhorinha a materialização da esperança, um ar quente e acolhedor dentro do peito, um sorriso espontâneo e verdadeiro no rosto de todos que estavam ali, presenciando o belo acontecimento.

Esse foi o dia em que vi uma senhora voltar a andar.

Que as pequenas coisas boas não passem desapercebidas no ano que está começando. Que possam ser lembradas e que renovem nossa esperança.

Vou escrevê-las sempre que puder.

23 de janeiro de 2024

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