Palavras sábias

Marina Yukawa
1 min readSep 2, 2022

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Uma senhorinha amiga minha me disse, certa vez que eu a visitava, sempre tão rápidas as visitas, sempre trocando sacolas de compras, uma coisinha da rua ali ou daqui que eu ia buscar para ela ou para a casa dela, nessa correria de pequenas horas para tão grandes coisas que precisamos ter e fazer.

A senhorinha amiga minha me disse, com um sorriso malandro nos olhos brilhantes e tremor nos lábios, que se treme toda e a voz às vezes falha, mas ela ainda diz com a perspicácia e o divertimento de quem já viu muito, mas muito mesmo, do mundo na vida.

Ela me disse, talvez com um pouco de ressentimento, mas mais divertida, com a satisfação de quem sabe dizer a verdade que poucos já chegaram a constatar; que eu, principalmente eu, não tinha constatado na minha pouca idade perto da dela.

Com uma ou outra palavra diferente e trocada, graças à memória nunca tão fiel às coisas e às pessoas, ela me disse assim:

Os sobrinhos nunca aparecem nem ligam para saber se estamos bem ou se precisamos de alguma coisa, estão sempre ocupados cada um cuidando da sua vida, mas sabe em qual reunião eles gostam de ir? Num velório. Num velório a gente vê gente que nunca viu na vida.

Rimos e continuamos vivendo. Nas visitas breves, nas trocas de sacolas, nas histórias que ela conta, algumas distantes, outras de agora. No tempo. Nas palavras sábias que ela me diz.

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