Minhas leituras mensais: janeiro/22

Marina Yukawa
3 min readFeb 3, 2022

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Talvez seja pelo início do novo ano. Talvez seja pela minha estante de livros nova, que toma a parede do teto ao chão e que me faz feliz com sua vista de lombadas coloridas e bonitas. Talvez seja por tudo, e tudo inclui o tempo chuvoso e um janeiro que passa voando como uma borboleta bela e desenfreada atrás das flores e do sol.

Tenho retomado minhas leituras, e não há nada mais prazeroso. Tanto que decidi fazer um diário delas e compartilhar de forma resumida o que tenho lido no mês. Janeiro já se foi.

AmoreZ, da Regiane Folter

AmoreZ é um livro pequenino e singelo. Me chegou no comecinho do ano, logo na virada, e foi muito bom e propício começar minhas leituras por ele. Regiane percorre o alfabeto em diferentes gêneros literários em textos curtinhos e divertidos para nos lembrar das inúmeras formas de amor, das inúmeras formas de se amar alguém, com a certeza de que todos têm a capacidade de amar e merecem ser amados. Um bom lembrete para o ano que começa, uma esperança, e um prazer de leitura.

Obrigada, Regiane, por tanto amor dentro do seu livro lindo.

As Boas Mulheres da China, da Xinran

Reli As boas mulheres da China para o Clube de Leitura Mulheres Asiáticas que ajudo a organizar desde o segundo semestre de 2021. O clube tem me proporcionado reler algumas obras que li há algum tempo, e reler Xinran me fez voltar à época em que redigia o Sorrisos Amarelos. Me conscientizei ainda mais do quanto ler Xinran naquele tempo me ajudou a encontrar uma forma de narrar as histórias que eu tinha, que não eram minhas, mas de mulheres reais que as confiaram a mim. Me fez ver que é verdade que ler nos faz descobrir novas formas de escrever. Me fez ver como sou grata à Xinran. E ouvir dos leitores que As Boas Mulheres da China lembra o Sorrisos só me faz ainda mais grata.

As Filhas sem Nome, da Xinran

Reler As Boas Mulheres da China me fez querer conhecer outras obras da Xinran. Comecei por As Filhas sem Nome, que eu já tinha aqui guardado.

Me surpreendi ao encontrar uma ficção, mas foi uma surpresa muito agradável. Xinran transformou a história de três mulheres que conheceu e que não tinham nomes — chamadas apenas por números que representam a ordem de seus nascimentos na família — nas das irmãs Três, Cinco e Seis. O pai, frustrado por não ter filhos homens, não se preocupou em escolher nomes para as filhas.

As meninas saem da casa dos pais no campo (Três fugida, Cinco e Seis a acompanham depois) e tentam a vida na cidade grande. Uma narrativa gostosa de ler, em que é impossível não se cativar por cada uma das três, seus desafios, descobertas e dificuldades. Da forma mais delicada e sutil da ficção, ainda assim verdadeira e sincera, Xinran nos conta suas histórias.

Peixes de Aquário, da Rafaela Tavares Kawasaki

História contada em dois tempos que vão e voltam (anos 40 e anos 90), e também privilegiando cada personagem, membros da família Fujikawa. No passado, uma família da colônia japonesa no Brasil em tempo de Segunda Guerra Mundial, perseguidos em solo brasileiro, considerados inimigos e traidores, e as consequências de uma atmosfera tão hostil em meio doméstico, no íntimo do lar. O fogo que consome; o rio Tietê que traga e afoga. Mortes. Separações. E depois de cinquenta anos, reencontros.

A história é contada com muita poeticidade e sagacidade. A autora tem domínio das palavras, conhece seus personagens. É muito belo. E para mim, que também sou nikkei, a leitura é ainda mais nostálgica, mais acalentadora e afetiva. Senti o aroma e também o gosto do yaki manju quentinho da história (e me surpreendi com o fim que levaram!). Cresci numa cozinha em que minha avó sempre preparava o doce e me deixava provar logo que saía da panela. Um doce bonito com o molde de flor. O gosto me dá saudade. A leitura, um prazer.

Obrigada por todo o carinho e pelo livro lindíssimo, Rafaela!

Me deixa feliz perceber que li mulheres. Me deixa feliz perceber que li amigas. As leituras, é claro, continuam.

Fevereiro já chegou.

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