Desalento

Marina Yukawa
1 min readAug 8, 2022

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Sonhei que estava escrevendo.

Já escrevi anteriormente: escrever é sonhar, mas nunca pensei que pudesse ser tão literal.

Há tempos não escrevo e há tempos não sonho, ou melhor: não consigo me lembrar dos meus sonhos.

Sonhei que estava escrevendo em um caderno. Não me lembro sobre o que escrevia exatamente — uma história de amor, seu fim trágico? — , pois um tremor de vento na porta me acordou de susto. Alguém que não existe é que batia.

Quando acorda o sonho acaba.

Lembro que escrevia como em um poema acróstico, dando uma palavra a cada letra de outra — um nome, talvez? — , escrita em coluna na vertical: palavras cruzadas. Das letras, só uma ficou. Nem primeira nem última, a letra D.

Desalento, eu escrevi.

A palavra que o sonho me deu: desalento.

Começa com D, assim como dor — segunda opção.

Um tremor de vento na porta me acordou de susto. Não era ninguém. Ainda não era hora de levantar.

Ainda não é hora de deixar de sonhar.

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